Pessoas Que Amam Demais

Vou te contar uma historinha: Era uma vez uma estrela que queria ser amada e brilhava forte na esperança de atrair outra estrela. E atraia. Atraia muitas.  Ora ela se apaixonava por estrelas cadentes, mas estavam sempre de passagem e ela ficava arrasada quando partiam. Ora ela se apaixonava por outras mais próximas dela, mas por não brilharem tanto quanto ou exatamente como disseram que o amor brilharia, se tornavam as “estrelas erradas”. E quando ela decidia que era a “estrela certa”, diminuía o próprio brilho para destacar aquela.  O amor nunca foi exatamente como lhe falaram. Milhões de anos se passaram. Um dia a estrela simplesmente apagou. Algumas estrelas acreditam que ela amava demais. Ela apagou achando que nunca amou.  (Trecho do meu livro “Criaturas de Um Deus Menor” )

Há pessoas que amam demais. 

Sim, parece absurdo dizer que existem “pessoas que amam demais” como se amor fosse algo que pudesse existir em exagero. Afinal, em todos os filmes, novelas, desenhos, séries e livros, não é o amor a cura de todo mal?

Na ficção o amor é a divindade intocada dos sentimentos.  É o que nos torna melhores e ideais. E nos desenvolvemos obstinados e obcecados por ele, o tal amor. Que é tão perfeito ao ponto de curar tudo em nossas vidas. Perfeito ao ponto de nos dar tudo que queremos.

Nos contos de fada tem o príncipe encantado que salva a plebeia e lhe tira de toda tristeza, porque eles se amam. Tem o beijo do amor verdadeiro que salva da morte ou  transforma sapos em príncipes. Nos livros, novelas, séries e filmes, o amor é a justificativa dos atos mais insanos. Se mata e se morre por ele. Existe o dito popular de que “no amor e na guerra vale tudo”.

E então chegamos ao mundo real. Onde o amor dói. Não importa quão fofo ele pareça para você, ele pode soar de forma psicopata pra quem você ama.  Ele pode ser inconveniente quando não correspondido. Ele pode ser incompreendido porque pessoas amam de formas diferentes. Ele pode ser inspirador quando da certo. E deprimente quando não dá.

E o que é “dar certo”? – É o “e viveram felizes para sempre”.  Clássico desfecho. Mas tal qual o amor no mundo real machuca, o desfecho também nem sempre é  ideal.

É claro que queremos estar para sempre com quem amamos, mas esbarramos no quesito "tempo" e na eterna inconstância dos seres humanos. Nunca somos os mesmos para sempre e isso é ótimo. É porque nos tornamos diferentes que precisamos de coisas novas para suprir as necessidades que surgem pelo caminho e foi assim que tudo se inventou e desenvolveu no mundo.

Mas voltando... Será que você ama demais?

Quem ama demais tem opiniões muito fortes sobre o amor. Ele é muito puro e perfeito. Elas se apaixonam e se arrasam com frequência. Elas sempre acham “a pessoa” e depois descobrem que “a pessoa” era tão comum como às outras. Elas desistem do amor. Até que se apaixonam novamente.
Se você ama demais às vezes você abre mão do seu sono, alimentação e bem estar para pensar no outro ou fazer algo pelo outro. Se você ama demais  você toma atitudes que te expõe a perigos e te causam danos terríveis. Inclusive, você aceita coisas que te machucam e às vezes abre mão de sonhos, desejos e planos, por esse tal grande amor.

Geralmente, pessoas que amam demais merecem o céu. Mas daqui para o céu tem um caminho e seria muito melhor se o caminho fosse simplesmente feliz, não acha?

Vamos lá...

É preciso aprender sobre amor de forma saudável.  O amor que deve nascer e ser cultivado primeiramente por nós mesmos. Pra quando ele for grande, forte e certo do seu valor, ser distribuído. Sem essa convicção aceitamos "migalhas" em troca de todo o "ouro" que nos habita.

A ficção não nos instrui a encarar a vida com amor próprio. Amor pela pessoa que somos, por nossa alma imortal. Porque no plano da imaginação o “outro”, é agente passivo dos nossos anseios e expectativas. Logo, não precisamos melhorar a nós mesmos se podemos deixar ao encargo do ser perfeito que criamos, o dever de nos tornar melhor.

Mas não funciona assim. Se você deposita em alguém a missão de te tornar perfeito, de tornar a sua vida perfeita, você o sobrecarrega. Há amores que nos adoecem justamente por serem assim. Quando não construímos nossa própria fortaleza, o amor quando parte nos deixa sem teto. E o amor parte!
Não passe pela vida na obsessão do amor perfeito. Porque você pode amar muitas vezes sem perceber. E não viver as coisas lindas que imaginou, porque está esperando a pessoa certa. Aliás, perder pessoas preciosas, porque você tem uma visão limitada do que seria a perfeição.

O amor saudável é aquele que vem fácil, que apoia nossos sonhos e nos coloca no dele. Parte quando deve, sem estragos.  E deixa nossa porta aberta, para entrar   amor até o ultimo suspiro.

No fim, a moral da historinha do inicio é, não apague seu brilho por um suposto amor! Não brilhe só procurando algo igual a você ou suas expectativas,  às vezes é preciso amar “cometas, nebulosas e planetas”.  E definitivamente, não apague achando que não amou. Quando na verdade o que você fez foi amar demais.



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