RECEBI O SEGUINTE CONSELHO DO MEU PAI AOS 11 ANOS

"Não eduque seus filhos como se você fosse eterna"

Estava chateada por ele se recusar a pagar um passeio escolar para um parque de diversões, enquanto lidava com meus colegas falando sem parar sobre isso. Mas notando a minha indignação e tristeza, tivemos uma conversa bem franca sobre o que eu estava sentido em relação a situação. Sempre admirei isso no meu pai, ele nunca tentou “fantasiar” as coisas e sempre buscou me conscientizar sobre tudo. Me lembro dele explicando exatamente o quanto ganhava e o quanto aquele passeio representava do salário dele. E que para ele prioridade é que eu tivesse o que comer, vestir, onde morar e pudesse estudar, me questionou se qualquer uma dessas coisas me faltavam e claro, eu não tinha argumentos diante disso.  E tão logo veio essa pérola, que dentre outras que me deu ao longo da vida, carrego fortemente na memória:

“Eu não sou provedor dos seus desejos, sou provedor das suas necessidades. Se eu te educar achando que qualquer coisa que você quer eu posso te dar, você nunca vai se esforçar o bastante pra ter nada e infelizmente minha filha, não sou eterno. Preciso garantir que sem a minha presença, você pode existir bem nesse mundo e isso não significa te deixar uma grande herança, porque se você não tiver mentalidade para reconhecer o esforço das coisas, você também não fará esforço para mantê-las. Eu espero que você eduque seus filhos com a mesma perspectiva. Para que eles sejam espertos, fortes e independentes como eu sei que você será”.

Parece um diálogo pesado para uma criança de 11 anos, mas eu me senti confiante e respeitada.  Ele não ignorou meus sentimentos, não me puniu pelas reclamações e não me entregou o que eu mais queria, qualquer uma dessas atitudes teriam gerado impactos negativos na minha educação. No primeiro caso o sentimento de distanciamento entre nós se acentuaria, no segundo, a punição poderia reprimir meus sentimentos no futuro e no terceiro eu me acostumaria a “chorar e reclamar” que logo tudo se resolveria. 

E bem sabemos que chorar e reclamar não resolve nada na vida adulta, certo? 

Por mais ingênuo que pareça um simples passeio, foi a motivação necessária pra me despertar o desejo de sempre procurar uma solução aos meus problemas e encara-los de maneira prática. Tinha só 12 anos e comecei a entregar panfletos de comércio, vender gelinhos, fazer a unha das vizinhas, reparar roupas etc. Os anos passaram e essa minha disposição, só me ajudou profissionalmente. Trabalhei para empresas maravilhosas e desenvolvi um currículo do qual eu me orgulho, simplesmente por ser educada a não viver na zona de conforto. 

(Ressalvo que estou falando da realidade de uma criança que trabalhava porque queria, não porque precisava. Uma criança que teve tempo e apoio para estudar!)

Eu acredito muito no poder da educação através da conversa, de não tratar crianças como seres puramente passivos e desprovidos de entendimento, isso não significa “adultizar” a criança, mas reconhecer nela uma pessoa em formação que precisa ser bem instruída e entender que o mundo vai além dela. 

Divido essa experiência com a esperança de que isso ajude na resolução de algum conflito familiar ou auxilie pais de primeira viagem, pois é perfeitamente compreensível o sentimento de “querer dar tudo” a quem amamos tanto. Mas que esse tudo comece pelo básico: Respeito, empatia, responsabilidade e resiliência.

 Nunca fui castigada ou “apanhei” para me tornar uma pessoa de quem meus pais se orgulham e de quem eu me orgulho, mas é claro que os bons exemplos sempre vieram deles.  Que tenhamos carinho e cuidado pelas crianças, carinho e cuidado por nós para sermos “bons espelhos”. 



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